sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Encerrando



'Ainda vão me matar numa rua.
Quando descobrirem,
principalmente,
que faço parte dessa gente
que pensa que a rua
é a parte principal da cidade.'

                                               - Paulo Leminski


Posto esse poema, e a partir de agora não escrevo mais aqui. Não tenho mais assunto pra esse blog.

Escrevo, já faz algum tempo, coisas totalmente desconexas ao blog que aqui se encerra - e totalmente aleatórias - aqui:

http://praleraqui.blogspot.com.br/



sexta-feira, 12 de julho de 2013

Por um mundo com menos sofás


O sofá mais fofo - em qualquer casa - está sempre em frente à televisão.


Um grande homem se foi. Trabalhou sentado. Viajou sentado. Descansou sentado. Quantas vezes não nos sentamos juntos, e ali permanecemos sentados? Aguardo ansiosamente o primeiro enterro de uma pessoa sentada – claramente a posição favorita dos homens. E estarei lá sentado assistindo.

Clamo que todos em plena saúde – começando por mim – coloquem seus sofás nas calçadas, e um caixote em frente à TV.

Prefiro o ‘plim-plim’ dos copos nos bares,
A novela das ruas,
O telejornal dos pedestres.

O destaque de domingo no ‘esporte espetacular’ é minha pedalada até o centro, ou minha corrida à beira da represa. Em loop - não me importo em assistir programas repetidos toda semana.

Por que escolher entre os ‘seis canais telecine’, se caminhando por duas horas na rua, a noite exibe a melhor première – e de exibição única – da programação? Não tem a mesma ação, o mesmo drama, a mesma comédia. Mas tem mais verdade.

Pelo fim da Síndrome de Estocolmo do dia-a-dia. Em que a vítima sorri a quem lhe toma brutalmente o tempo (e mais).

Procuramos as vagas mais perto da entrada, os bancos com atendimento mais rápido, as vias expressas mais livres, para que possamos chegar em casa e ficar mais tempo parados.

E a pizza que pedimos chega em 15 minutos, para que nos outros 45 minutos da hora, não tenhamos mais que esperar pela pizza.

É sexta-feira, e neste fim de semana, me chamem para sentar e comer pizza ou tomar uma gelada (melhor ainda). Mas irei de bicicleta ou a pé, sempre que – e enquanto for - possível.

Prefiro levar 45 minutos de bicicleta, a levar 15 minutos dentro do carro.
De bicicleta ganho meia hora.



segunda-feira, 24 de junho de 2013

Porque Corremos


Existe algo que liga o ser humano à corrida, e que está além das competições e busca por condicionamento físico. A própria história do ser humano no planeta se confunde com a história da corrida. É o esporte mais antigo do mundo – junto com a luta. É tão antigo quanto nós mesmos.

Há pouco tempo - de trezentos mil até trinta mil anos atrás -, cohabitavam a terra o Homo Neanderthalensis e o Homo Sapiens. O Homo Sapiens veio a evoluir para o Homo Sapiens Sapiens - muito prazer -, enquanto o Homo Neandethalensis foi extinto.

Como sobreviveu o Homo Sapiens, um mamífero tão frágil, sem garras ou grandes dentes, lento, no meio de animais grandes com chifres, dentes afiados, e maior velocidade? Lembrando que durante milhares de anos, este sobreviveu sem a habilidade de fazer ferramentas para proteção e caça à distância?

Simples. O Homo Sapiens corria e o Homo Neanderthalensis – devido a sua estrutura física mais pesada -, não.

Nosso ancestral corria em grupo, como forma de transporte, fuga, e caça. Sim - caça.

Em algum estágio da evolução, o Homo Sapiens descobriu que era – e ainda é – o animal terrestre com maior resistência física para percorrer longas distâncias do planeta. O guepardo ou a chita podem correr em velocidades impensáveis para um ser humano, mas não conseguem manter essa velocidade por muito tempo. Nem um cavalo consegue correr maior distância sem parar do que um ser humano. Acredite, pois em Wales – Grã Bretanha – existe uma corrida anual ‘Man Versus Horse’, e ainda hoje em dia um ser humano vence de vez em quando.

Então, em um estágio primitivo de sua evolução, e sem nenhum tipo de ferramenta para caça a distância, o Homo Sapiens caçava correndo em grupo atrás dos animais. Quase todo animal terrestre podia correr mais rápido que o Homo Sapiens, mas logo tinha que parar por calor ou cansaço.

O Homo Sapiens, por outro lado, tinha um sistema perfeito de dissipação do calor, por conta dos poucos pelos e distribuição de glândulas sudoríparas na pele. Além da capacidade de administrar reservas de energia. Até hoje, quando fazemos atividades físicas, sentimos quando temos que parar ou quando temos energia para continuar. Outros animais não tem isso, e, se perseguidos com persistência, podem correr por instinto até a estafa. Ou até morte.

Assim era a ‘caça de persistência’. Durante muitas horas um grupo de Homo Sapiens perseguia sua presa, que fugia, mas logo parava após algumas centenas de metros ou alguns quilômetros. E logo o grupo a alcançava - pois correndo de forma ereta, podiam ver longe na planície -, e novamente começava a perseguição. Dezenas de quilômetros depois, a presa simplesmente caía ao chão ou desistia.

E o consumo de carne – me desculpem os vegetarianos – foi essencial para a evolução do Homo Sapiens. Quanto à necessidade de consumir carne em nosso atual estágio de evolução, não acho que seja absolutamente necessário.

Além da caça, a corrida permitia que o Homo Sapiens se transportasse de um lugar para o outro, quando os recursos naturais acabavam ou o clima de tornava desfavorável. Uma forma de migração. Enquanto isso, o Homo Neanderthalensis vivia em um mesmo lugar a vida toda, famoso por sua baixa mobilidade.

O Homo Sapiens, que deu origem a nós, sobreviveu graças à corrida. Então, quando uma pessoa corre, ela está agindo – geralmente sem saber - na sua forma mais primitiva.

Nenhum esporte é mais essencialmente humano do que a corrida.

Mas agora, depois de milhares de anos, qual a necessidade de se percorrer longas distâncias a pé, em tempos modernos de carros, trens e bicicletas? Qual a necessidade de se correr por horas a fio, em tempos de drive-thru, delivery, comida congelada e freezers? Qual a necessidade de se correr ao ar livre, entre o céu e a terra, em tempos de academias, esteiras ergométricas e personal trainers? Qual a necessidade de arriscar as juntas dos joelhos e ligamentos do pé, em tempos de ‘impacto zero’, natação e pilates? E por que fazer isso, sem ter a menor perspectiva de ser um atleta profissional, ou quando já se está em boa forma física?

Se você parar dez corredores nas ruas – por favor, não faça isso - e perguntar, acredito que oito ou mais não conseguirão dar uma resposta. Não por não saberem. Mas sim, por saberem que tem algo além. Algo que pode - ou não - ter a ver com a história que contei acima. Mas não é fácil de explicar.

Existe algo de incompreensível na corrida. Uma ligação com a nossa natureza mais profunda. Algo que transcende qualquer coisa terrena e contemporânea. Algo que nos liga aos nossos instintos. Nossa essência humana.

E esse algo incompreensível que existe na corrida, é um de nossos maiores elos com os nossos ancestrais mais primitivos.









Membro da tribo Kalahari – que tem as únicas três pessoas no mundo que ainda praticam a caça de persistência – com um antílope morto por exaustão.