terça-feira, 28 de maio de 2013

Long may you Run


A noite está fria e pouco convidativa para um ensaio. Sei que estou desafinado, então faço um breve alongamento.

Meu set list é curto. Só uma hora de treino. Um pocket show.

Começo com Streets of Philadelphia. A bateria sozinha por dois compassos dita o ritmo inicial da corrida. Quando a primeira tecla do órgão é apertada, aperto também o meu cronômetro.

Tenho uns três minutos pra correr pelas ruas da Filadélfia, antes do Sabbath me levar pra Birmingham com War Pigs. O frio e a escuridão da noite ficam mais intensos, conforme me concentro nos acordes dissonantes da guitarra. E agora não estou mais correndo, estou fugindo. A música vai ficando mais rápida conforme corro mais rápido - ou vice versa, não sei dizer com certeza – até terminar em seu ápice.

Contra a minha vontade entra Soul to Squeeze. Mas tudo bem, na Califórnia também deve fazer frio às vezes. Aproveito pra pegar um trecho de avenida, onde o barulho dos carros me obriga a aumentar o volume. Ainda na avenida, o Pearl Jam começa sua versão de Crazy Mary. Quando entro numa rua mais tranquila do outro lado da avenida, o Eddie Vedder está uivando no meu ouvido a todo volume. A lua está cheia, com um véu de nuvens.

Começo uma longa descida ao som de Deus é uma Viagem, do Cidadão Instigado.

Achando que a viagem ia terminar junto com a descida, começa Errare Humanum Est do Jorge Ben, e eu sou lançado com toda força de volta ao espaço sideral. Preciso de quatro voltas na quadra pra terminar a viagem por sobre as estrelas - las - las - las - las. Finalmente aterrisso no topo de uma montanha com Fool on the Hill. Aproveito a música pra subir de volta tudo o que desci. It’s a long way to the top (if you wanna rock n’ roll).

No meio da subida - enxugando o suor - entra Enxugando Gelo com o B Negão e os Seletores de Frequência. O processo é lento, mas chego de volta à avenida, que milagrosamente está vazia.

Mantendo o ritmo, vejo novamente a lua cheia, e do meu fone sai um som novo. É uma bela introdução instrumental, e aperto os fones pra dentro dos ouvidos. O barulho da rua não me permite escutar perfeitamente. Estou longe do palco em um show ao ar livre. Mas é um jazz instrumental rápido. Quase um bebop, talvez.

Enquanto não identifico o intérprete, estou correndo pelas ruas de Nova Orleans.

A próxima música – mais lenta, agora com vocais - deixa claro que se tratava de Esperanza Spalding. Disco novo. Escuto mais algumas músicas dela, já de volta à praça onde havia começado. As únicas pessoas lá – dois policiais em frente ao quartel – entram pra se esconder do frio. Mister city, policeman sitting, pretty little policemen in a row.

Junto aos aplausos da última música, escuto o bater dos meus pés no chão, cada vez mais lentos.

Dia frio. Hoje não tem bis.


Long may you run.
Long may you run.
Although these changes
have come
With your chrome heart shining
in the sun
Long may you run.

Long may you Run – Neil Young

3 comentários:

  1. Primeiro pensei: não vou conseguir acompanhar
    mas depois,
    me tirou o ar, me tirou o fôlego
    não vi Sampa ( ou seja lá onde é essa quadra e avenida) - só Califórnia.
    Eddie Vedder me trouxe de volta para a corrida sonora.
    De resto, por falta de competência musical, acompanhei só a corrida
    Mas B Negão apareceu e todo o processo voltou.
    Por Jáh os aplausos apareceram na hora certa.

    Mister city, policeman sitting, pretty little policemen in a row. Ichi Alá! Foi uma bela noite fria!

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  2. Só aumentou minha vontade de voltar a correr! Sensacional Porpets!

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